domingo, 3 de outubro de 2010

Istambul – Islamismo e Santa Sofia

Começamos a sentir as diferenças culturais desta viagem na fila do check-in da Turkish no aeroporto de Guarulhos: a fisionomia das pessoas, o idioma, as mulheres com lenços na cabeça...
Nosso vôo foi pontual e tranquilo. Dormimos durante grande parte das 12 horas do trajeto. Pousamos ao cair da noite sob uma chuva fina, com a visão dos minaretes das muitas mesquitas da cidade.

A ansiedade de chegarmos sozinhas a um país muçulmano, ainda que ocidentalizado, era grande. O idioma nos intimidava um pouco, mas nosso receptivo estava lá com a plaquinha com nossos nomes. Mesmo falando só meia dúzia de palavras em inglês, ele nos ofereceu água, bolinho e nos deixou no hotel Blue House Mavi Ev, muito bom e bem localizado, a 50 metros da praça Sultanahmet, no coração de Istambul.

Ao abrirmos a nossa janela fomos recepcionadas com a Mesquita Azul iluminada. Uma visão indescritível, mesmo com o restaurante vizinho encobrindo parcialmente. Mais emocionante ainda foi o primeiro chamado para a oração, que coincidiu com a hora que estávamos falando via skype com minha filha Gabi. Pusemos o notebook na janela e ela compartilhou conosco este momento mágico (coisas da tecnologia).

Chuva + Cansaço = Jantar no hotel. Surpreendentemente bom para um hotel. Fizemos nossa iniciação na cozinha otomana. Experimentamos o Dana Madalyon (medalhão de carneiro com molho de cogumelos), Kuzu Pirzola (bolinhos de carne envoltos em uma massinha fina) e de sobremesa Baklava, Samsa, Kadayif e Sakerpare (uma seleção de doces turcos que seria nossa perdição nessa viagem).

E não é que fomos acordadas as 4:30 da madrugada com a voz do muesim chamando para a oração?



Alá é o Maior, Alá é Maior;
Alá é o Maior, Alá é Maior.

Eu testemunho que não há outro deus que não Alá;
Eu testemunho que não há outro deus que não Alá.

Eu testemunho que Maomé é o Mensageiro de Alá;
Eu testemunho que Maomé é o Mensageiro de Alá.

Venha orar! Venha orar!
Venha se salvar! Venha se salvar!

Alá é o Maior! Alá é Maior!
Não há outro deus que não Alá.

Os muçulmanos rezam 5 vezes ao dia. O horário das orações é calculado de acordo com o movimento do sol. A prece do meio do dia, por exemplo, começa quando o sol está no ponto mais alto de uma determinada localização. Como isto muda com as estações do ano e de acordo com o local onde você está, não há um só momento sem que uma prece seja feita ao redor do mundo. (tradução livre do panfleto What is Islam, obtido na visita à Mesquita Azul)


Nosso segundo dia em Istambul amanheceu com a mesma chuvinha fina da noite anterior, mas nada que um guarda chuva emprestado pela recepção do hotel não resolvesse. E lá fomos nós caminhando somente em companhia do guia de bolso conhecer nossos vizinhos famosos.






Veja o roteiro da nossa primeira etapa em Istambul, onde exploramos os bairros de Sultanahmet, Sirkeci e Saray Burnu (região do Palácio do Sultão):



Visualizar Istambul-Fase I em um mapa maior
 
    SANTA SOFIA (Ayasofia)

A primeira visita em Istambul não poderia ser outra senão a Basílica da Sabedoria Sagrada, um dos maiores feitos arquitetônicos do mundo, considerada a suprema maravilha da civilização bizantina e símbolo de Constantinopla. Foi construída há mais de 1400 anos, inaugurada pelo imperador Justiniano, transformada em mesquita no século 15 pelo sultão Mehmed II e em museu em 1935 pelo primeiro presidente da República Turca, Mustafa Kemal Ataturk.



Praticamente não havia filas para a entrada. No verão, a basílica fica aberta diariamente das 9h às 17h e no inverno de terça a domingo das 9h30 às 16h30. O ingresso custa 20 liras turcas (aproximadamente 12 dólares).



O prédio de tijolos vermelhos, com as ruínas de frisos bizantinos de carneiros, escondia a grandiosidade de seu interior.



Como eu havia prometido à Gabi, fomos direto fotografar a pedra fundamental, na perpendicular da cúpula. A partir deste ponto toda a estrutura da basílica foi construída. Segundo suas aulas de filosofia do colegial estes 2 pontos significam, do ponto de vista espiritual, a união entre o terreno (pedra fundamental) e o divino (cúpula).










 
É impossível não se impressionar com a grandiosidade da nave,...


...das paredes superiores ...



...e da cúpula de 56 metros de altura por 36 metros de diâmetro decorada com inscrições do Corão.


Ainda no térreo, onde os vestígios otomanos são mais evidentes, chamaram nossa atenção:

O Minbar, um púlpito elevado onde o Iman pregava o sermão das sextas feiras.

É proibida a aproximação dos visitantes, mas o gatinho (onipresente na Turquia) estava lá tranquilamente afiando suas garras. Mas não é o único gato folgado que existe. Eu conheço um, o Elvis lá de casa, que não fica atrás (aqui, verificando se estou fazendo minhas postagens direitinho).








O balcão do sultão

O Mihrab, nicho na parede que aponta a direção de Meca.


Omphalion - o local onde os imperadores bizantinos foram coroados

Biblioteca de Mahmut I...

...com sua porta decorada em bronze

O kursu, trono usado pelo Iman quando lia trechos do Corão

Urna de purificação, do período helenístico, trazida de Pergamo (hoje Bérgama)

A Porta Imperial...

...e acima dela o mosaico bizantino Cristo no Trono com um Imperador Ajoelhado diante Dele

Por uma rampa de acesso chegamos às galerias. É o local da maioria dos mosaicos bizantinos, que ficaram recobertos durante o tempo em que a basílica foi transformada em mesquita. O que apreciamos:









 Porta de Mármore, usada pelos participantes dos sínodos (época bizantina)

 Deesis – Dia do Julgamento: Cristo sendo coroado entre a Virgem Maria e João Batista

 Virgem com João II Comeno e a imperatriz Irene

 Cristo com o imperador Constantino IX Monomachus e a imperatriz Zoe

Adicionados quando foi transformada em mesquita:


 As inscrições caligráficas (estas otomanas)

 E os minaretes

Na abside ainda se vê:


 O mosaico do Arcanjo Gabriel

A Virgem com o menino Jesus no colo

Na saída do museu (ou entrada, quando era mesquita) a bela Fonte da Ablução, em estilo rococó turco. Meu joelho bem que estava precisando de uma purificaçãozinha.













Este Museu/Mesquita/Basílica é incrível! Não é a toa que foi a primeira coisa que a Nani quis visitar em Istambul. Na lojinha do museu, não resisti e comprei um caderninho com capa de mosaico, para as anotações da minha próxima viagem.






Pausa para almoço no Altin Kupa Restaurant, escolhido ao acaso. Valeu a pena pela comida honesta e principalmente pelo ritual do pottery kebab. Este prato pode ser de carne, cordeiro ou frango, assado com ervas em um pote de barro, que chega flamejando à mesa (veja aqui). A tampa do pote é quebrada com um único golpe de sabre pelo garçom. Pena que já estamos saboreando os nossos kebabs simples quando vimos o ritual na mesa ao lado. Pedimos este mesmo prato em 2 outros restaurantes na Capadócia, mas não veio com toda esta pompa.

Próxima escala: Istambul - Cisterna da Basílica e Dervixes na Estação Sirkeçi